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sábado, 16 de julho de 2011

Hoje Mano Brown completa 41 anos, parabéns guerreiro

É difícil escrever sobre Mano Brown.
Afinal, o que ainda não foi falado?
O que podemos afirmar com toda certeza é que ele, com ou sem intenção, dita regras dentro hip-hop brasileiro. O que o Brown faz, canta, veste e fala é seguido por multidões.
Mano Brown conseguiu ultrapassar barreiras e levar o hip-hop para além das periferias. Este fato ainda choca alguns e contraria outros, mas a verdade é que ele continua polêmico como nunca.
Neste dia 22 de abril completa 41 anos que Dona Ana deu a luz ao menino Paulo Soares Pereira. O que ela provavelmente não imaginava é que aquele moleque iria se tornar uma das personalidades mais importantes do Brasil.
E para marcar esta data tão especial, o Portal Rap Nacional traz uma entrevista que Mano Brown concedeu a apresentadora Luka, no programa Play Fast 89, da Rádio 89FM. O programa foi ao ar às 20h, do dia 12 de abril e as perguntas que você vai ler abaixo foram feitas por Luka e também via telefone por ouvintes. A entrevista foi transcrita na íntegra e para ouvir o áudio você pode clicar aqui.
Como foi o começo dos Racionais na São Bento. Quem estava lá? Como estão hoje?
Mano Brown:
A rapaziada daquela geração, que é da minha geração e alguns são mais velhos… Alguns deles são artistas de sucesso hoje, outros trabalham em outras áreas, meio anônimos. Mas todos estão trabalhando ainda na cultura. A maioria esta bem. Eu tenho um contato, razoável, à distância… A rapaziada tá bem…
Foi uma época, foi uma virada…
Quando que foi?
Mano Brown:
Eu cheguei na São Bento no final de 1987, já começo de 88. O mundo era outro, era outra coisa que é hoje. Há 22, 23 anos atrás. Era como se eu tivesse chegado em Nova York, eu subi do metro, quando cheguei lá em cima vi uns caras com uns rádios, umas roupas bem estilo mesmo. Coisa que a gente só via em filme.
Aí eu chegue e falei pro meu primo, o Blue, – “porra mano, passei ali vi uns caras dançando, com a cabeça pra baixo, cara estilo Nova Iorque,  bem louco. Tenho que te levar lá”- E demorei um mês para voltar lá e depois que eu voltei eu nunca mais parei de ir. Foi uma coincidência, é uma história longa.  Deus conspirou para mim conhecer a São Bento.
E foi rápido porque em 1991 o Racionais já estava abrindo o show do Public Enemy?
Mano Brown:
Mas veja bem, a gente só abriu o show por que eu pulei o muro, eu pulei duas grades e afrontei um segurança. Quando o segurança me grudo… Eu consegui chega no vocalista principal e pedi apoio.
Não estava escrito, não fazia parte da programação não, eu que pulei o muro e cheguei até o artista principal. Quando o segurança chegou em mim eu falei: – “tira a mão de mim, o dono é aquele ali”. E ele era o cara mesmo, o americano.
E o Chuck D tava lá?
Mano Brown: O Chuck D chegou e falou: “solta ele aí”. Eu falei: – “você lembra de mim?” Eu fui no hotel vê eles, fui com os caras…       Quando o Public Enemy chegou em São Paulo  a gente tirou o dia Public Enemy, ninguém comeu , ninguém fez nada, todo mundo procurando pra saber onde os caras tava pra ver. Eu sei como que o fã se comporta,  o que ele pensa. Eu sou um fã.
Ele viu a gente no hotel. Eu tava sentado numa cadeira e quando ele desceu do elevador foi como se um profeta tivesse saído do elevador.: -“ O Chuck D…. Nooossa! Jesus!”- E ele olhou pra nós, olhos pra gente, ele conheceu. E naquele momento que eu pulei o muro ele me conheceu. Quando eu cheguei no palco ele me conheceu e falou: “eu lembro desse cara aí, solta ele”.
Ali vocês fizeram o show, muitas pessoas conheceram os Racionais ali naquele momento, naquele mega show?
Mano Brown: Veja bem nós cantamos uma música só. Não tinha nada armado, combinado, nada programado. Foi uma rebeldia minha e uma rebeldia dele .Ele afrontou a produção dele mesmo e mandou eu cantar.
Nós cantamos uma música só e não foi tudo aquilo. Mas só representatividade.. Mas ninguém imagina que eu tive que pular duas grade para conseguir.
Como era para vocês ali estando no extremo sul, como que as coisas chegavam até vocês, as informações, como você conheceu Tupac, Public Enemy, já que naquela época não existia internet, MTV, esses meios de comunicação, todas essas fontes de música ?
Mano Brown: Na realidade, teve dois eventos que marcou minha entrada do rap. Uma foi ter visto o Thaide na Cultura. Na época eu lembro que eu cheguei, peguei uma entrevista no meio e era o Thaíde. Eu vi um cara cantando e eu nem sabia que aquilo se chama rap . Por que em São Paulo não falava-se rap falava-se balanço, falava funk. Na gíria falava balanço, saiu um balanço novo e tal. Balanço era o funk, era essa nova música que tava surgindo que era o rap, era Curtis Brown. Tinha uns artistas que faziam esse estilo de som, mas não se chamava rap em São Paulo, não existia esse termo rap. Isso foi uma coisa muita nova, tudo para nós era funk.
Quando começou a aparecer esse nome rap. Eu ouvi através dos bailes do Chic Show
O que eram esses bailes do Chic Show?
Mano Brown: Era a reunião da rapaziada. Sei lá… Era o show business do movimento negro era a Chic Show que fazia. Era onde todo mundo se encontrava, vestia as melhores roupas, o melhor perfume, as melhores mulheres, as mais gatas iam nesse lugar, nesse bailes, no Palmeiras. Tinha outros, tinha Zimbábue, tinha Black Med.
Mas eu comecei na Chic Show, no concurso de rap do Asa Branca. E a Zimbábue que era uma equipe, não vou dizer rival, mas concorrente, abraçou a causa. A Chic Show em cima não. Porque o Racionais quando a gente começou era muito político, mais do que até… Talvez a gente extrapolasse um pouco, pela revolta, pela fase. Chocava com a filosofia do baile, que era divertir, entreter, aliviar a tensão. A gente ia lá e deixa o clima mais tenso ainda. E na Zimbábue eles aceitaram a gente assim, de cara feia, com discurso cheio de espinho. E a Zimbábue foi a gravadora, a primeira que abriu as portas.
Falei de dois evento, o Thaíde foi um. Na época teve uma premiação que passou, não sei se era na MTV, Warnes… Teve uma a apresentação do Andrues MCS,  eles cantaram uma música só. Ninguém conhecia. E quando eu vi o Andrues MCS e eles tinham aquele ritual de gestos, eles se cumprimentavam com a mal no alto e usavam umas correntes bem grossas mesmo, bem estilo, uns Adidas bem loucos, umas roupas de couro bem loucas.- “Pô, esses negrão aí nós tinha que ser igual eles… Esses  negrão é o poder, o poder negro. Nós tínhamos que ser igual os negros americanos, nóis é muito oprimido aqui, aqui no Brasil o negro não fala, não protesta o negro não se impõe,olha os negros americanos como eles são corrente de ouro”
E aquilo motivou a gente a parte estética, a primeira coisa que a gente viu foi estética, roupa, visual. Aquilo é poder também, visual também é poder , eu posso falar isso por que eu fui pego por um visual quando a gente viu aquilo  a gente penso por esses negros ai , a gente tinha que ser assim desse jeito, forte. Foi isso que incentivou. Eu quero ser isso aí.
Foi daí que vocês foram caçando todas as informações, essas bandas?
Mano Brown: Em 88 o Brasil era fechado para importação. Então não tinha nada de importado no Brasil. Pra você comprar um boné americano tinha que importar ele e esperar três meses para chegar. Tudo era difícil a gente sai do Capão pra buscar informação na Paulista , por que tinha uma loja chamada DJ Shopping  e gente ia até a loja ver as capas dos discos. Na época ninguém tinha DVD , ninguém tinha um aparelho de DVD na zona sul . E a gente tinha um amigo aqui na sul o MC Bronx ele é um rapper ainda. E ele tinha umas fitas de DVD e ele tinha o aparelho de DVD e televisão colorida, coisa que ninguém tinha até hoje eu não perguntei pra ele como ele conseguiu aquilo tudo ( risos) . E a gente saia num mutirão da São Bento para a casa dele, que era perto da onde é a favela do moinho hoje. E a gente se reunia na casa dele para assistir esses videoclipes, Esse cara tinha essa fita. Ninguém mais tinha. . Então a gente via e aprendia não tinha onde comprar aquilo , você tinha que ver registrar e já era. Aprender olhando, você não ia ter aquilo nunca. Você não ia ter acesso aquilo sólido, só filosófico.
Antes de começar com o racionais, você trabalhava com  que ?
Mano Brown: Olha esses dias eu fiz uma somatória dos meus anos de carteira trabalhado eu descobri  que eu tenho dois anos e meio só ( risos). Eu trabalhei muito em trabalho informal. Registro em carteira era uma coisa muito valiosa na época então não era fácil de conseguir . E eu também tinha um problema sério com os meus patrões eu nunca fui um funcionário muito disciplinado. Eu não tinha faltas mas eu contestava as decisões . Eu nunca concordei de tá na minha carteira Office boy e o cara me manda buscar Malboro,  no bar. Eu não sou buscador de Marlboro. Eu nunca fui bom funcionário. O melhor emprego que eu tive eu trabalhei quatro meses e fui caguetado e daí pra frente foi só rap. Mas no rap eu trabalho muito mais do que eu trabalhava antes.
Você se preocupa com a parte da organização do show, por que o show não é somente cantar, no que você se envolve fora o show ?
Mano Brown: Eu me envolvo em tudo, dentro do grupo eu participo de tudo. Desde pegar a mala no chão até pendurar um banner de 4 metros de altura. Eu e o Blue a gente é mão de obra. A gente compõe, canta e bate prego na madeira, varre, tira caixa, descarrega caminhão, se tiver que fazer… Se tiver que desmontar o palco a gente desmonta. Já passei a madrugada colando cartazes do show.
Eu sei fazer tudo, dentro da minha empresa eu sei fazer tudo.
Você escuta essa nova safra do rap? O que você gosta de ouvir ?
Mano Brown: Eu to ligado na cena nova, to ligado na cena antiga , to ligado nos eternos, tem uns que são eternos, outros são novos mas talvez serão eternos. Um termo que o William Magalhães usa muito é “eternizar”.
Eu ouço vários, eu sei tudo que esta acontecendo , posso citar alguns nomes mas com certeza ia deixar de citar muitos outros . Tem uma rapaziada ai com um proposta nova, e você sabe que não basta apenas cantar rap, você tem que ser rap , viver o rap , o rap exige isso de você, te cobra a sua própria letra te cobra . Então eu acompanho e o rap esta em uma transição agora e nessa transição, novos nomes aparecerão aí. Eu acredito que a tendência é crescer , só crescer, diversificar e enriquecer a cultura
Você gosta bastante de música dos anos 70?
Mano Brown: Essa é minha religião, música negra… Música!
Dire White?
Mano Brown: Opa. Dire White é o profeta.
Marvin Gaye?
Mano Brown: Esse é quase um messias.
James Brown?
Mano Brown: Esse é o messias.
O que mais você gosta. Fala aí os caras que você pira?
Mano Brown: Jorge Ben, Tim Maia, Cassiano, Hilton.
E rock? Tem alguma banda que você gosta, gringa?
Mano Brown: Sting.
Sting é mestre é genia!
Mano Brown: Tem alguns amigos, o Helião do RZO ele também conhece bastante de música. A gente fica falando de música. O Lino Crizz… Ele fala que Liverpool Express é da hora, Sting. Não tem nada haver com rap. Se os cara do rap vê nós ouvindo isso aí vai pensar que nós tá pá. Mas tem haver.
Você lembra de alguma letra , algo eu surgiu de repente na hora de dormir por exemplo?
Mano Brown: Já aconteceram umas coisas loucas. Aquela música “Jorge da Capadocia’, que é do Jorge Bem eu sonhei com ela em cima da música do Izaque Reis eu acordei de manhã eu fui na casado meu amigo Marquinhos que é DJ . Eu falei irmão, tenta fazer um loop na fita que era fita cassete daquele som , e ele foi pego a fita , cortou coloco durex . Ai comecei a cantar essa musica Jorge da Capadosia e encaixo que nem uma luva e essa música viro um sucesso dos Racionais. Eu não canto ela, eu escolhi três amigos meus para cantar. A música foi o maior sucesso e eu sonhei com esse som. Eu não escrevi a letra, nem o som , mas eu sonhei com essa combinação, do baixo de um som com  a letra do outro, eu sonhei, eu acordei de manhã e fui executar. Fizemos e foi sucesso.
Você si leva muito mais a sério por que as pessoas te levam a sério ?
Mano Brown :
Eu sou sério. Já me falaram isso. Eu não me acho sério, meus amigos falam: – “você é sério”. O Blue fala: -“você é sério”. Eu digo como assim? Eu dou risada? Ele diz que eu não me vejo.  Eu respeito esse lado radical, dos radicais. Eu respeito. Porque eu acho que tem que ter uma vigilância. A gente não tá aí só pra fazer o que quer também não. Eu tenho obrigações com o meu movimento. Tenho compromissos com eles. O rap é compromisso mesmo. Eu não to aqui pra fazer só o que eu quero, eu tenho o compromisso com eles. E eu respeito quando eles discordam, mesmo não concordando com eles. Eu respeito. Nem sempre eu faço  o que eles querem, mas eu respeito o que eles querem, os radicais. E existem outros que estão mais dispostos a ouvir outros sons e tal. O que também não é o meu caso, eu não sou um cara tão versátil pra música eu também sou radical, eu respeito os radicais.
E o disco novo quando que vai sair, como que vai ser ?
Mano Brown: O disco tá bem encaminhado, eu tava fazendo uma retrospectiva com meus companheiros de produção DJ Cia, Helião Ice Blue, Lino Crizz. A gente já tem bastante música pronta. Já temos um disco pronto.
Mas até pelo o que você falou ai com muita influencia de funk certo , temos músicas que fogem um pouco do perfil conhecido dos Racionais se é que existe esse lance de perfil certo. Eu sou um cara que esta sempre na rua  então eu sei a opinião publica da esquina eu levo em consideração muito, então eu sei que eu tenho que fazer outras músicas para chegar onde eu tenho que chegar. Eu já tenho o disco pronto se eu quisesse lançar hoje eu lançaria , mas eu não sei se agradaria essa rapaziada que esta esperando. Poderia causar um susto, da um desconforto, tipo os caras mudou,acabou. Só que não acabou nada e não mudou nada a gente quer ampliar , eu quero fazer funk, esse funk do James Brown, eu sou um aprendiz e quero sempre fazer funk , não tem como um rapper não gostar de funk, por que o rap veio do funk. E nós não podemos nos dar ao direito de deixar a modernidade acabar com isso, como a gente não deixou a modernidade acabar com a Bíblia , com os livros de história, não podemos deixar acabar com o James Brown , com o Bob Marley. Eu procuro sempre eternizar essas músicas,  essas batidas, essa época através das minhas músicas.
Você escreve tudo que você canta?
Mano Brown: Nos últimos dias eu tenho feito música para outras pessoas cantarem. Apesar de que eu já fiz outra músicas que eu não cantei. Mas bem menos. Agora eu entrei numa de compor mesmo, músicas para outras pessoas cantarem. Eu tô lançando, na  gravadora Cosa Nostra, o disco da banda Black Rio, que o líder é o Willian Magalhães, filho do Oberdan, fundador. Willian é o herdeiro natural da banda. Que é uma super banda e tá a altura que qualquer banda famosa do mundo. Essa é a minha opinião a respeito da banda Black Rio. Eu vou lançar esse disco e nesse disco eu trabalhei como compositor também. Fazendo música para outros intérpretes. É loko. Porque eu sempre ouvi falar disso, de pessoas que só compõe, não cantam.
Mente do Vilão foi você que fez a parte da produção?
Mano Brown: A Mente do Vilão ali tem cinco mãos, de cinco pessoas. Aliás, dez mãos. (risos). É o William Magalhães, Brown,    Don Pixote, Du Bronxs e tem o vocalista, que eu considero um compositor, que é o Jadiel. Foi feito por cinco pessoas e foi feito em um dia.
Você faz a produção também? Você ajuda?
Mano Brown: Eu participo em tudo, desde a batida, do primeiro acordezinho ali, até a última silaba do rap dos cara. Eu faço o meu rap e acompanho o rap dos cara. Eles compõe o rap deles, mas eu acompanho, participo. Faz por onde chega a um barato que me agrada. Agrada ao chefe. Um barato que qualidade. Du Bronxs…
Até quero dar um salve que os caras tão lá no estúdio. DJ Cia, meu produtor, DJ Kl Jay, meu DJ e produtor, Edi Rock, meu parceiro, meu irmão, Ice Blue, meu parceiro, meu irmão, Helião, um dos maiores rappers do Brasil, compositor também, Negredo lá no Capão. Wilson, abração ai meus irmãos, Big, nova geração do rap que tá apavorando e os demais que eu esqueci de falar….
Quando você vai compor é rápido ou tem música que demora?
Mano Brown : Tem música que demora pra caramba. Tem música que é tinhosa, igual mulher…
Você interpreta o rap de uma forma muita única. Você faz a voz do seu subconsciente falando com você mesmo… Quando você vai gravar como é esse processo.
Mano Brown: Se você tá concentrado, dormiu bem. Tem esse lance, eu durmo mal.

Você se preocupa, tem algum cuidado com a voz ?
Mano Brown : Eu não sou disciplinado nessa parte, fumar, beber gelado. Eu não sou. Mas isso de organismo para organismo muda. Há pessoas que não podem tomar um copo de água antes do show que a voz corta na hora. Eu venho já num ritmo, talvez seja hereditário. Meu ritmo é esse e eu não tenho sofrido com esse problema.           Eu não tenho tanta disciplina como cantor, eu tenho mais fora. Eu me cuido. Evito muita coisa. Eu aprendi a me cuidar dentro do rap. Aprendi disciplinar dentro do rap, o rap me ensinou. O que vestir, o que não vestir, o que comer… Eu aprendi isso dentro do rap. As coisas básicas eu trouxe da minha casa, minha mãe me ensinou. Mas muita coisa de vida, de maturidade, de vida adulta. Eu entrei no rap adolescente. Eu aprendi ser adulto no rap. Meu filho nasceu eu tava dentro do rap. Meu filho nasceu no rap. Minha filha também nasceu no rap. Comprei minha casa dentro do rap. Minha vida é o rap. Minha segunda vida.
Você tem esse cuidado com alimentação? Malha?
Mano Brown : Tem que fazer… Quando eu tava começando no rap eu li Malcon X. Ele falava muito sobre alimentação, sobre não comer carne de porco, não comer certas coisas, não beber certas coisas, não fumar certas coisas. Então, quando eu entrei no rap, eu entrei de pé, cabeça, espírito, corpo e alma. Eu levei minha família para dentro do rap. Eu entre com a minha vida. Tudo que tinha de bom para assimilar e absorver eu absorvia. Sou muito agradecido ao rap. Que muita coisa que eu não ia aprender… Eu não tive um pai para me ensinar. Eu tive o rap.
Eu não gosto de água gelada, eu prefiro me cuidar. Mas não é uma coisa que eu fico me policiando, não faz isso, não faz aquilo. Eu vivo normal.  Sem exageros.
Na hora de gravar tem aqueles dias que não tá legal?
Mano Brown : Quando não to legal eu nem vou. Tem dias que você sai bem de casa e chega lá e fica ruim. É o que a gente chama de roubar a brisa. No meio do caminho você recebe um telefone que acaba com o seu dia. Você chega lá em declínio, sua alma fugiu no meio do caminho.
Tem dia que você não tá inspirado. Mas inspiração vem mais da transpiração e da insistência. Você não é melhor do que ninguém para Deus dar inspiração para você todo dia.
Tem dia que eu insisto. Tá ruim mais eu vou tentar. Eu já fiz música boa, num momento ruim da vida. Eu aproveitei para passar o momento ruim da vida para a música e ficou boa. Mas, tem dia realmente que você não tá a fim. Você pode ficar ali dez horas e não consegue criar nada.
Você sempre faz tudo no caderno? Você fuça a internet?
Mano Brown : Eu não gostava de internet. A única coisa que eu gosto é ver videoclipe e ouvir musicas que a gente não tem mais acesso nas rádios. Eu gosto de ver jogos do Santos antigos, dos anos 70, 80. A discografia do Marvin. Eu gosto de reunir meus amigos, a gente liga o youtube nas caixas. Eu sou o DJ do Youtube. Fico horas pondo músicas pros meus amigos. É o que eu gosto de fazer, por música, mostrar pra eles o que eu gosto. Tentar fazer eles gostar também. Convencer é uma missão difícil. Você fazer o cara entender o que você sente por aquela coisa. Nem sempre o cara sente a mesma coisa. Se eu ouço uma música do Marvin eu fico emocionado. Outro cara já quer ouvir outra coisa.
E rede social?
Mano Brown : Não. Eu não tenho. Quero até deixar avisado para a rapaziada, eu não tenho Orkut, não tenho facebook. Não tenho nada disso. O que tem na rua aí são fãs, são amigos, são pessoas que tentam informar. Até porque eu não tenho como informar as pessoas das coisas que eu faço e existem pessoas que estão fazendo isso por mim na internet.
Só que não passa por mim não. Fica conversando com mulher casada aí na internet, pelo amor de Deus. Não faz isso não!
O que você acha do cenário rap nacional? Essa mídia que o rap tanto criticou agora tá fazendo falta?
Mano Brown : Algumas pessoas radicalizaram mesmo, levaram para o extremo. Mas não foi a única coisa que foi para o extremo de não dar tanto valor ao ritmo, outras coisas também foram ao extremo. E o Brasil é campeão em fazer as coisas serem levadas ao extremo. Eu lembro de várias fases do rap que as mensagem eram claras e objetivas mas as pessoas distorceram também, para a própria conveniência. Como a Bíblia, você tem lá os dizeres, tem as palavras e tem pessoas que distorcem as palavras e usam como elas bem entendem. Muita coisa que o Racionais falou, que o Thaíde falou e o Thaíde fala, e o Bill fala e o Racionais fala e os grupos falam, muita coisa também é levada ao extremo.
As vezes eu acho que falta um pouco de, eu não vou dizer equilíbrio, nem dizer… Falta um pouco o que? Falta dosar melhor. Dosar. O rap precisa passar a realidade, mas não pode dar as costas para a música. Porque o rapper é um músico.
Eu quando fui tirar minha carteira de música e a mulher pediu para mim cantar, eu fiz um rap e ela disse que não era música, que eu tava falando. Eu tive que cantar uma música do Jorge Bem para eu tirar minha carteira. A primeira luta que eu tive no rap foi para fazer reconhecer como música. E a gente tá nessa luta até hoje. Muita coisa também passou. Muita coisa errada já foi aprendida, já foi reciclada. E eu acredito que a tendência agora é a gente conseguir unir política, filosofia, som, batida, modernidade, tradição, o nosso objetivo é dosar tudo isso.

Você não pensa em fazer um filme sobre o Racionais?
Mano Brown : Um filme do Racionais ia ter que ter quatro filmes. Um de comédia, um policial, um de terror e um romântico. Racionais é mil fita, um filme só pra explicar é difícil. São 22 anos de muita história
Racionais tem história aí absurda. Tem história que se contar, só a história já dá um filme, fora o Racionais.
E você gosta de cinema?
Mano Brown: Eu gosto muito. Gosto de cinema e ainda pretende transitar por esse universo aí, não sei como, se como escritor, co-diretor, diretor, qualquer coisa. É um lance que eu curto.

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